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Brasil Abaixo de Zero

HISTÓRIA DA NEVASCA DE 29.06.1996 NO MORRO DA IGREJA


meirelesevandro
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:girlwitch: :girlwitch: A GRANDE NEVASCA DO ANO DE 1996.

 

Depois de sentir na pele e se deliciar com a formidável nevasca do ano de 1990, passei a gostar de meteorologia e de ficar ligado nas previsões meteorológicas para a ocorrência de uma possível neve em nosso Estado. Acho que foi a partir deste instante, que percebi o quanto gostava do frio e principalmente da NEVE. Bem, o papo está bom, mas vamos ao que interessa, não é...

O ano era 1996, mais precisamente finalzinho de junho. Como sempre faço talvez umas 15 a 20 vezes por semana, sempre dou uma olhada na previsão do tempo para saber se vai chover ou dar sol. Lembro que a previsão não era das melhores, pois informava a ocorrência de tempo severo (muita chuva) para todo norte, nordeste do RGS e para o oeste, sul e todo o planalto catarinense. Informava também, que estava a caminho do sul do Brasil uma potente massa de ar polar, que estava despejando sobre o território argentino, enormes quantidades de neve na região da Patagônia, Andes e centro argentino. Como sempre, fiquei na expectativa de como esta massa de ar polar chegaria por aqui, pois, como em certas vezes acontece, quanto há no sudeste brasileiro um centro de alta pressão (anticiclone de bloqueio), estas massas de ar tendem a desviar para o oceano. Estes centros de alta pressão funcionam como verdadeiras barreiras de ar quente, não permitindo “às vezes” que as massas de ar frio e polar cheguem ao sudeste brasileiro. Fiquei feliz, quando constatei que não haveria qualquer bloqueio atmosférico lá para as bandas do sudeste brasileiro, permitindo assim, que esta potente massa de ar polar chegasse com força ao nosso Planalto Serrano. Uns 3 dias se passaram e ainda continuava chovendo de maneira contínua e o frio já batia às nossas portas de maneira aterradora. As previsões do tempo informavam que entraria em nosso Estado no próximo final de semana uma poderosa massa de ar polar, aliada a muita chuva. Durante o meu trabalho na 6ª-feira, ficava imaginando, como deveria estar o tempo no Morro da Igreja, no topo dos seus 1.822 metros. Será que lá também está chovendo? Será que está muito frio? Será que poderá nevar? Será que já está nevando? HÔÔ, dúvida cruel..... Quando fui para casa, procurei saber mais informações nos meios de comunicação, mas em vão, eles não acrescentavam mais nada além do que eu já sabia. O tempo passava e eu ficava cada vez mais ansioso. Quando escutei o noticiário da RBS TV, eles anunciaram uma possível neve para a próxima madrugada. Meu coração disparou e fiquei super ansioso. Quase chorei de tanta felicidade. Liguei no mesmo momento para o amigo Ronaldo Coutinho, que é responsável pela divulgação dos avisos meteorológicos da climaterra – em São Joaquim. Ele me disse que a neve era quase certa e que podia pegar neve já nas áreas mais altas da grande Florianópolis. Estas palavras me deixaram ainda mais ansioso. Todas as informações davam conta de uma possível neve. Continuei assistindo aos noticiários pela TV, até chegar o momento do Jornal Nacional. E veio a notícia que eu mais esperava. “No sul, com a chegada de uma forte massa de ar polar, aliada à forte umidade vinda do oceano, poderemos ter a ocorrência de neve nas serras gaúchas e CATARINENSES. Amanhã em São Joaquim a mínima pode chegar aos -10°C e a máxima mão deve passar dos 11°C em todo o período. Fiquei entusiasmado com a notícia. Na mesma hora falei para a minha esposa preparar as roupas e os agasalhos. Liguei para os meus irmãos e informei que havia uma grande probabilidade de nevar no Morro da Igreja. Perguntei se eles estavam a fim de ir e a resposta, foi sim, mas não podíamos esquecer que naquele dia 29 de junho era o aniversário de nossa mãe. Então resolvemos que retornaríamos no final da tarde do próximo dia.

Dormimos um pouco e lá pelas 05:00 horas já estávamos todos acordamos animados para ver a neve. Pegamos os casacos, lanche, água e é claro a máquina fotográfica e a filmadora e se tocamos para o Morro da Igreja. O frio em Florianópolis estava anormal, pois devido à grande umidade do ar e ao vento forte, tínhamos a impressão que aqui já estava abaixo de zero. A chuva não dava trégua. Quando chegamos a Rancho Queimado, paramos para ver se não estava nevando, tamanho era o frio naquela região. Nada de neve... Seguimos viagem e os nossos olhos estavam a todo momento procurando algum vestígio de neve. Quando começamos a subida da Serra do Panelão, já em Urubici, falei para todos que ali a altitude já era ideal para a ocorrência de neve. Subimos mais um pouco e de uma hora para outra, notei que os pingos da chuva começaram a ficar estranho, parecia que estava chovendo gel. Antes os pingos batiam no pára-brisa e escorriam para cima, devido à força do vento e do carro em movimento. Agora eles batiam e se esborrachavam no vidro e não escorriam. A coisa foi aumentando e nesta hora eu falei: gente isso é neve misturado à chuva. Paramos o carro e ali estava ela, para todos verem. NEVE EM GRANDES FLOCOS e da forma mais bonita de se ver, ou seja, em meio à vegetação. O verde da mata, contrastando com os flocos caindo é simplesmente maravilhoso. Ali a neve já estava acumulando e tínhamos que ir com cuidado. Falei para meus irmãos, que, se ali já estava nevando, imagino o que não estava acontecendo no Morro da Igreja. Entramos novamente no carro e se tocamos para o Morro. Logo que chegamos à estrada que dá acesso ao Sindacta, notamos a paisagem em volta totalmente nevada. E bota nevada, nisto.... Paramos o carro e ficamos pensando e discutindo como seria difícil chegar ao alto do Morro. Ligamos o carro (GOL CL) e começamos a subida. Com o auxílio de um altímetro, notamos que quando chegamos à casa dos 1.000 metros começou a nevar novamente. A nevasca foi aumentando, aumentando e quando chegamos aos 1.450 metros a coisa se complicou, pois a neve já era tanta que ficava cada vez mais difícil seguir adiante. Paramos o carro e ficamos curtindo a nevasca que se abatia sobre a região. Vimos que ainda não tinha subido nenhum veículo. Tínhamos a certeza, porque não havia rastros de automóveis na neve. Passados uns 15 minutos, escutamos um barulho de um veículo subindo. Era uma TOYOTA da Base Aérea, 4x4, com corrente nos quatro pneus, subindo o Morro. Quando chegaram até nós, eles pararam e perguntaram se estávamos precisado de ajuda. Respondemos que não e eles seguiram viagem. A Toyota ao subir, fez aquele rastro enorme na neve, então falamos: aí está a nossa chance de subir mais um pouco. Entramos novamente no veículo e subimos com dificuldade. Para arrancar o carro, foi um sacrifício. Tivemos que empurrar, senão, não o veículo não saia do lugar. Conseguimos subir até os 1.600 metros e o carro simplesmente atolou na neve. Não subia de jeito nenhum. Saltamos e pudemos constatar que era impossível seguir adiante. Olha meus amigos, não estou aqui para mentir, mas a NEVE CHEGAVA FACILMENTE NA ALTURA DOS JOELHOS. Olhamos a situação do veículo e notamos as rodas e os pára-lamas, abarrotados de neve. O pára-choque mal aparecia e estava empurrando a neve para frente, por isso o carro não subiu e parou. Pegamos a máquina fotográfica para tirar umas fotos e a mesma não ligou. Pegamos a filmadora e nada. Nesta hora somente pensei... “era só o que me faltava, dar problema nas máquinas justo agora”. Eu no meio desta neve e não poder tirar nenhuma foto”. Não entendia o porquê daquilo, pois sabia que as baterias tinham carga. Não tinha a mínima idéia do teria acontecido. Brincávamos na neve como crianças. Fazíamos guerra, bonecos, bolas gigantes e tudo o tínhamos direito de fazer. Lá pelas 09:00 horas, começaram a chegar vários veículos das mais variadas cidades do nosso Estado, também do Rio Grande do Sul, do Paraná e até de São Paulo. Eram aqueles que viram as notícias na noite anterior, viajaram a noite toda e estavam chegando ao Morro da Igreja naquele momento. Só que os turistas não esperavam ver tanta neve e nem tanto frio. Acreditavam que seria mais uma neve como qualquer outra, mas não era, era uma puta nevasca acompanhada de um frio que bateria recordes. Em certo momento fomos obrigados a colocar todos os agasalhos que havíamos levado. Os turistas se deliciavam com tanta neve. Eram fotos e mais fotos. Eu somente olhando com a máquina dentro do carro. Veio um turista e me explicou que talvez a máquina tivesse dado problema por causa do frio. Ele me orientou a colocar a máquina junto ao motor quente do automóvel para que as baterias conseguisse um mínimo de carga para umas poucas fotos. Deixei a máquina dentro do capô do veículo por uns 20 minutos e não é que deu certo... consegui tirar umas 05 fotos e depois ela pifou definitivamente. Tentamos caminhar até o alto do Morro, mas não conseguimos devido ao frio extremo. Lembro que tinha um vento gélido que deixavam as nossas mãos dormentes, boca rachada, nariz e orelhas roxas. A sensação térmica no alto do Morro em campo aberto beirava os –40ºC. Ali onde estávamos a sensação beirava os –25ºC, pois estávamos abrigados do forte vento. A neve era tanta, que muitos moradores da cidade de Urubici juravam que nunca tinham presenciado tanta neve acumulada no Morro da Igreja. Aquilo soava como música para nossos ouvidos. Saber que aquela, poderia ser uma das maiores nevascas que caíra no Morro. Legal. Teve um rapaz que tinha uma caixa de ferramentas no carro e mediu a altura da neve com uma trena de metal e a mesma acusou 45 cm de altura em diversos pontos da estrada. Acredito que em certos locais abrigado do vento a altura da neve tenha ultrapassado 50 a 60 cm. Lembro que a altura da neve era tanta, que deitávamos e ela cobria todo nosso corpo. Por volta das 17:00 horas, já exaustos, com fome e sono, voltamos à Florianópolis para comemorar o aniversário de minha querida mãe. Quando chegamos, contamos a todos da nossa grande aventura e minha mãe apenas falou: Meus filhos, vocês tem mais sorte que juízo. Estava ela se referindo ao fato de nós termos nos arriscado nas estradas, atrás de um punhado de neve. E o pior que ela estava coberta de razão, mas fazer o que.... SOU LOUCO POR NEVE.... Abçs. EVANDRO

 

ET: Mais tarde viemos saber que a temperatura naquele dia havia chegado aos impressionantes -17,8°C (a menor temperatura já resgistrada em solo brasileiro), com sensação térmica de -35°C e picos de -40°C.

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Sensacional o relato! Pena que foram tão poucas fotos...

 

Que desbravador, o primeiro a subir naquele dia, antes mesmo do exército? Foi uma das maiores nevascas dos últimos anos, perdendo apenas para a de 1990 na minha opinião.

 

No momento das fotos já tinha parado de nevar?

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