Boletim da Somar
09/01/2013 18:06:00
Governo Federal afirma que Brasil não terá racionamento de energia, mas especialistas alertam que o setor deve se preparar para novo ciclo climático, que reduz as chuvas no país A falta de chuvas e a consequente queda no nível dos reservatórios das hidrelétricas do Brasil acendeu o risco de um novo apagão no país. Os reservatórios das regiões Sudeste e Centro-Oeste, que respondem por 70% da capacidade de produção de energia hidrelétrica no país, armazenam menos de 30% da água que têm capacidade no momento, índice menor que o observado pouco antes do racionamento adotado em 2001. A diferença daquele ano para hoje é que o país possui mais que o dobro de usinas termoelétricas operando. Mesmo assim, essas usinas, que trabalham desde outubro com a capacidade máxima para sustentar o consumo de energia elétrica, não foram suficientes para evitar que os reservatórios das hidrelétricas chegassem a esse nível crítico. Além disso, a alternativa que já está sendo usada é mais cara, por causa do consumo de combustível, e uma hora essa conta deve chegar ao consumidor. Segundo o ONS, Operador Nacional do Sistema, cada mês de operação dessas unidades custa cerca de R$ 700 milhões, que são repassados à população, e equivalem a uma alta de 1 ponto percentual na tarifa. O momento crítico é resultado de uma combinação de fatores. Segundo os especialistas de clima, o problema começou há algum tempo. “Os últimos dois Verões foram sob efeito do fenômeno La Niña, que é o resfriamento das águas do Oceano Pacífico, o que resultou num longo período com reservatórios baixos no sistema Sul” explica o climatologista da Somar, Paulo Etchichury. No ano passado, alguns episódios de chuva ajudaram a amenizar o problema. Em janeiro, por exemplo, as precipitações ficaram acima da média sobre a Bacia do Grande e em junho, novamente choveu mais que o normal. Lembrando que essas chuvas foram intensas apenas sobre o Sudeste, os outros sistemas continuaram operando com reservatórios baixos. Além disso, no restante do ano a situação foi bem diferente. Entre fevereiro, março e abril, que fazem parte do período chuvoso, 2012 teve a seca mais intensa dos últimos 20 anos e no fim do ano, quando começa o período úmido, o retorno das chuvas deveria compensar a época seca, mas essa condição ainda não foi verificada. As chuvas realmente começaram em outubro, tanto que as lavouras de Verão se desenvolveram bem, mas a qualidade delas não resolve o problema do setor elétrico. As chuvas desse ano estão irregulares, de baixos volumes acumulados e mal distribuídas, o que não é adequado para recuperar os reservatórios das usinas. Após a reunião do CMSE (Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico) em Brasília, na tarde desta quarta-feira, dia 9, o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, falou em entrevista coletiva que "não houve, não haverá agora e espero que jamais haja desabastecimento de energia nesse país". Segundo o ministro, os reservatórios estão com algumas dificuldades hoje, mas a tendência é melhorar daqui para frente. Segundo o climatologista, Paulo Etchichury, há uma expectativa de um primeiro trimestre de 2013 melhor de chuva que o último trimestre de 2012, mas de qualquer maneira a situação é preocupante, já que a atmosfera entra num novo e longo ciclo. Os especialistas e institutos de pesquisas meteorológicos chama de Oscilação Decadal do Pacífico, que em termos gerais significa que estamos vivendo um período de atmosfera mais fria, que dura aproximadamente 30 anos. A ODP, como é chamada, mantém a variabilidade do clima, de chover mais em algumas estações do ano do que em outras, mas suas consequências neutralizam os efeitos do El Niño e potencializam os efeitos da La Niña, por exemplo."Nessa fase que a atmosfera se encontra é comum que os volumes de chuva sejam menores e isso influencia diretamente nos reservatórios. Essas mudanças começaram em 2005, com o Oceano dando alguns indicativos, mas a resposta da atmosfera é gradual e os estudos se confirmaram esse ano, quando o El Niño que se formou em julho de 2012 foi fraco e curto", afirma Etchichury. [*BPrevisãoB*] [*BB*] Para que os reservatórios das usinas hidrelétricas do Brasil voltassem a um nível de segurança seria necessário que no período de chuvas, que se iniciou em setembro, o volume ficasse além do que é normal para essa época. "Agora estamos na metade do regime chuvoso e as precipitações ainda estão abaixo da média", afirma Paulo. E conforme dados do ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico), desde 2001 que o mês de janeiro não tinha reservatórios tão baixos como neste momento. A situação só seria revertida se algum evento extremo de chuva acontecesse, mas isso não deve ser observado até março, fim do regime de chuvas em grande parte do país. “As projeções não apontam para uma condição de chuvas acima da média, são esperados alguns episódios de chuva forte, mas que amenizam o problema e recupera só parcialmente o setor”, conclui Etchichury.Postado por: Grupo de operaçõesTags: [fechar]