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Brasil Abaixo de Zero

Caio César

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Everything posted by Caio César

  1. Olá a todos! Tendo vivenciado e acompanhado in-loco o fantástico evento da neve que acumulou nos pontos mais elevados da Serra Geral em Santa Catarina entre 22 e 23 de setembro, gostaria de relatar e deixar registrado aqui algumas discussões, análise de dados e rodagens dos modelos no decorrer do desenvolvimento deste sistema, que foram contando a história e materializando uma das mais significativas ocorrências recentes de neve tardia no Brasil. Apesar do fórum BAZ dispor de farto material e acompanhamento desse evento, e como sempre fiz em eventos do passado, deixo compartilhado aqui a minha experiência, análises e registros, derivada de mensagens trocadas com alguns usuários que participam do grupo de WhatsApp do BAZ, além do meu testemunho in-loco através de vídeos e imagens. No dia 16/09 eu chamava atenção no grupo de WhatsApp para alguns sinais que o modelo GFS começava a mostrar, especialmente na rodada das 18Z deste dia que apontava o ingresso de um sistema de alta pressão continental impulsionado por uma área de baixa pressão frente a costa. O Modelo Europeu também indicava a entrada de uma massa de ar frio continental, embora com desenho sinótico ainda distante do cenário ligeiramente mais favorável ao ingresso de ar frio como projetado pelo GFS. No dia 17/09 o GFS 12Z havia aumentado bastante o frio, começando a apontar uma remota chance de neve nos pontos mais altos da Serra Geral, muito por conta de uma camada de frio bem homogêneo até o nível de 800mb conseguir alcançar a região de São Joaquim e adjacências, apresentando em sincronia alguma precipitação segundo as projeções. Para o nível de 700mb o modelo indicava valores característicos a incursões classificadas de moderada a forte intensidade no sul do Brasil. Neste mesmo dia o Europeu 12Z também veio bem mais forte, mostrando um sistema mais organizado do que no dia anterior, quando chamei a atenção no grupo de que estava com cara de que o ECMWF iria seguir o GFS no desenho sinótico. Para o nível de 700mb o Europeu também seguiu o padrão inicial estabelecido pelo GFS. As rodadas da madrugada do dia 18/09 tornaram a confirmar o avanço do ar mais frio com características invernais, com indicativos de que seria tiro curto, mas possibilitaria uma rápida janela que poderia reunir as condições para a ocorrência de alguma precipitação invernal. A rodada da 00Z do dia 19/09 continuava incrementando ligeramente o potencial do ar frio em altura, fortalecendo a possibilidade de um evento interessante ocorrendo no final da quinta-feira. Já a rodada das 12Z neste mesmo dia mereceria a minha seguinte observação no grupo: "Rodada do Europeu 12Z é a mais forte qua a do GFS e coloca possibilidade de neve entre o final da tarde de quinta-feira ao início da madrugada de sexta nos pontos mais elevados da serra geral". Essa leitura indicava que a linha de 0oC em 800mb estava ganhando força, além de um maior resfriamento nas camadas superiores e com aumento da precipitação. Mostrava-se um desenho sinótico bastante característico dos eventos de neve no Sul do Brasil, cenário que era seguido de perto pelo CMC nesta rodada. Para o nível de 850mb o modelo Europeu também já projetava uma pequena área de 0oC acompanhando o cavado que passaria sobre a serra com instabilidades e ar mais frio no seu deslocamento. De modo contraditório aos primeiros indicativos, os principais modelos pareciam andar em direções opostas ao que indicavam nos primeiros sinais deste sistema. O GFS que havia sido o primeiro a apontar o cenário favorável para a ocorrência de neve começava a indicar uma ligeira redução no potencial de frio, especialmente nas camadas acima de 750mb, sugerindo aquecimento em 700mb a partir do meio da madrugada entrando em boa parte de SC. Cenário que dificultaria a chance de um evento mais significativo ou mesmo a sua ocorrência. Na rodada do dia seguinte o GFS aumentava ligeiramente a perspectiva de inversão entrando no meio da madrugada, projetando um cenário divergente do Europeu e de outros modelos há menos de 48h do início do evento. Situação que aquele momento colocava uma certa dose de incerteza, posto que o GFS havia sido um dos primeiros modelos a divergir dos cenários de neve fracassados que o modelo Europeu insistiu no mês de agosto. No dia 20 chegamos a viver dois momentos distintos com as rodadas do modelo Europeu. O primeiro na leitura da rodada das 00Z que eu resumia: "Europeu deu uma ligeira reduzida no avanço do ar frio, diminuindo o avanço da isoterma em 800 e a duração da isoterma em 700. Segue o baile." Mas em um segundo momento, me referindo a nova rodada daquele dia, nas 12Z, uma súbita reviravolta me fez apontar: "Rodada das 12Z do Europeu é a mais forte até o momento para a próxima MP, mantém e aumenta ligeiramente a possibilidade de neve nos pontos mais elevados da serra geral no RS e SC entre o início da noite de quinta e a madrugada de sexta". Ou seja, o modelo Europeu apresentava variações bastante significativas em um período de 12 horas entre as suas principais rodadas no dia 20/09, mas seguia firme como o modelo mais forte para o evento que se aproximava, chegando até a colocar um pequeno pontinho ("pixel") de neve no seu campo para o fenômeno. Embora o que se podia sugerir pela observação de outros indicadores fosse algo bem mais expressivo do que o mapa de neve acumulada sugeriria. Outra análise importante que eu vislumbrava em relação essa rodada 12Z do ECMWF no dia 20 foi a seguinte: "Está sozinho nessa e com cara de que vai lacrar". Indicando que o Europeu era o modelo mais consistente para a possibilidade de neve naquele momento. Já sobre o GFS fiz a seguinte referência: "Tá faltando o GFS entrar na dança. Tá mais fraco. Aguardamos aquela intensificação encima do laço". Outro aspecto a ser destacado é que em que pese o mapa de neve mostrar apenas um pixel, sendo menor em área e intensidade do que em algumas projeções furadas do mesmo modelo para eventos insignificantes ou que nem chegaram a ocorrer em agosto, as condições atmosféricas que o modelo projetava nos mapas, tais como a temperatura, ponto de congelamento, umidade e precipitação, além do desenho sinótico, eram infinitamente superiores aos mapas frustrados que o modelo insistiu em projetar no mês anterior. Relembrando o episódio didático: Campo de neve indicando boa área na serra geral, e que levou uma série de institutos divulgarem previsão de neve na grande mídia e em seus respectivos portais e redes. Temperatura sequer chegava a 0oC em 700mb Quando menos em 800mb Ainda assim os principais meios de comunicação comunicaram por dias consecutivos a previsão de alguns institutos ao público com grande sensacionalismo, causando o tradicional alvoroço e animação em aficcionados e turistas, que se deslocaram até as regiões serranas e se viram frustrados com a falta de ocorrência do fenômeno. Voltando: O dia 21/09 amanhecia com a rodada do modelo Europeu fortalecendo e ampliando a janela de probabilidade de ocorrência do fenômeno, além de uma significativa melhora na precipitação. Situação que fez o modelo ampliar ligeiramente a área do pixel de neve. Nessa rodada o modelo também havia aumentado o congelamento da atmosfera, que se manteria de forma bastante homogênea praticamente desde os 850/800mb até as camadas superiores. Situação que me faria destacar: "E nenhum instituto ou meteorologista citando essa possibilidade que já é maior do que qualquer evento de agosto". Indagado pelo colega Mário se o GFS havia melhorado também, o diagnóstico foi o seguinte: "Tá estranho, melhorou entre 800-750, continua o pior em 700, mais fraco e esfacelando muito cedo a isoterma nesse nível. Indicando inversão a partir da 00h-03h. Europeu está muito estável, e coloca precipitação durante toda a madrugada". De fato o modelo Europeu estava bastante consistente quanto a precipitação gerada pela circulação e proximidade da baixa pressão na costa, no que me fez destacar: "Desenho clássico de cavado provocando neve sob influência do ciclone". Dentro dessa perspectiva o modelo mostrava o nível do ponto de congelamento sobre as serras do RS e SC atingindo os 1.500m. O que geralmente é a altitude necessária do ponto de congelamento para precipitações invernais nos pontos mais elevados do RS e SC. O modelo também sugeria que durante o período do ponto de congelamento descendo aos 1.500m de altitude, instabilidades estariam presentes provocando precipitações sobre a região. Situação que era acompanhada pelo CMC naquela mesma rodada: Ainda no dia 21 a rodada das 12Z já trazia algumas novidades. ICON vindo com ciclone bem mais colado na costa do que a 00Z, mostrando um desenho sinótico característico aos sistemas que provocam neve no Sul do Brasil. O Europeu 06Z aparecia aumentando a isoterma em 850 na madrugada de sexta. Já o GFS 12Z também ia aproximando o ciclone da costa, como no Icon. Neste mesmo momento observava no WhatsApp BAZ: "Pela fotografia do momento não se pode descartar algum acúmulo eventual". Afirmação que geralmente prefiro de usar quando do indicativo de eventos mais expressivos. Outro ponto observado também foi: "ICON e GFS 12Z também incrementam o frio em altura, SEGUINDO O EUROKING". Fazendo naquele momento um trocadilho a exaltação bem humorada do modelo que estava bastante estável e sendo seguido nos detalhes pelos demais. Ainda assim o GFS insistia em uma inversão que poderia estragar o excelente cenário que se desenhava: "GFS melhorou em 850-800mb, mas coloca inversão em 700". Isso porquê o GFS projetava a chegada de inversão no começo da madrugada de sexta, impondo alguma divergência e incerteza nos detalhes que contam (e muito) quando estamos diante de um cenário limítrofe para a neve. "Até o meio da madrugada a atmosfera consegue conservar um bom congelamento pelo Euro até a região de São Joaquim, mas tem um pouco de inversão chegando pelo norte." "Hora que o GFS já mostra um baita aquecimento em 700hpa." Entretanto as demais rodadas e a convergência dos outros modelos mantinham a confiança em alta: "Mas acredito que a chance é boa. Principalmente entre 21h e 03h. São 6 horas de janela para a possibilidade de precipitações invernais". E logo o dia D (22/09) chegava com boas novidades no GFS, com a 00Z no início da madrugada mostrando melhorias consideráveis: "GFS 00Z aproximou MUITO a baixa pressão da costa em relação as suas rodadas anteriores Intensificou o frio de 850mb a 800mb Mas ainda é fraco de 750 a 700mb Melhorou a circulação de umidade sobre a serra" Observem que apesar de ter aproximado a baixa pressão da costa, o GFS seguia sem indicar precipitação no continente: Já o Europeu apresentava melhorias significativas e seguia firme no cenário de umidade e precipitação na noite e madrugada entre quinta e sexta-feira: "Europeu também aproximou ligeiramente. Cenário bastante estável no Euro, atrasando ligeiramente a entrada da isoterma em 800mb" "Europeu também melhorando desde ontem a umidade sobre a serra". "Cenário Formado, janela propícia a ocorrência da neve começa a partir das 21h" A 06Z do GFS viria com algumas indicações de frio incrementando em 800mb, porém mais seca. Já a 12Z daquele mesmo dia aguardava boas novidades: "CMC 12Z é neve" "GFS 12Z aumentou o frio. Melhorou em 700mb. -3 em 800mb!" Observem a potência da adveccão em 700mb, com os principais modelos projetando valores de -4 a -5 sobre a serra catarinense e até -10 sobre o RS. O que para fins de setembro são valores muito baixos e suficientes para a formação dos flocos de neve em caso de condições ideais de umidade e instabilidades presentes. Aquele dia seria o grande dia, assim todas as rodadas eram acompanhadas de perto, o que não foi diferente com a 06Z. Um cenário de incremento na umidade e frio homogêneo mais duradouro foi observado na saída do modelo Europeu, mantendo a sua estabilidade para um cenário favorável a ocorrência de neve: Com a melhoria gradual observada em todos os modelos, a rodada das 12Z viria a confirmar os indicativos com os modelos encontrando convergência para um cenário favorável a ocorrência de neve, o que foi sugerido inclusive no mapa do modelo CMC. O próprio GFS que até rodadas atrás insistia em projetar pouca ou nenhuma precipitação na madrugada de sexta sobre a serra, passou a indicar encima do lance. Cenário que já era antecipado por outros modelos, inclusive o CMC que vinha confirmando as rodadas anteriores com mais incremento em área e volume de precipitações sob o momento do pico de advecção de ar frio. O modelo europeu também vinha com muita estabilidade confirmando a projeção de precipitações no momento de maior intensidade do frio sobre a serra, Apesar dos indicativos favoráveis, o próprio modelo europeu seguia sem mostrar neve nos mapas de projeção. Exemplificando de forma didática que esta não deve ser a melhor opção na hora de formular a previsão para um fenômeno tão específico, especialmente no Brasil. O que requer a análise e consideração de outras variáveis além do mapa específico que o modelo gera para o fenômeno. O GFS era outro modelo que não apresentava neve nos seus campos, além de até o momento ser o que estava apresentando maior instabilidade e inconsistência nas suas variáveis para que se pudesse sugerir a probabilidade de ocorrência de neve naquele episódio. O único modelo que naquela rodada decisiva sugeriu neve na imagem gerada para o fenômeno em seus campos, ainda que de forma pouco expressiva, foi o CMC: Com esse cenário formado na rodada das 12Z do dia 22/09/2022 decidi iniciar a minha caçada para observação do possível fenômeno muito raro para a época do ano que poderia ocorrer nos pontos mais altos da serra catarinense. A partir do entardecer do dia 22 as temperaturas começaram a cair na serra catarinense sob condições de uma chuva fraca ou garoa, mas ainda se situavam em patamares elevados para qualquer ocorrência do fenômeno. Com as estações selecionadas abaixo é possível verificar o perfil da atmosfera em praticamente todos os níveis de altitude na região, desde os 1.200m na Terra do Gelo até os 1.800m no Morro da Igreja. 18h 5,0oC Morro da Igreja 7,3oC Cruzeiro - Montes da Serra Lodge 8,8oC Cruzeiro - Keiser 8,8oC São Joaquim - Inmet 9,9oC São Joaquim - Centro 10,9oC Bom Jardim da Serra - Terra do Gelo A partir das 21h é que foi possível observar a entrada mais forte da advecção de ar frio, que era impulsionado pelo ciclone extratropical na costa do RS, seguindo o que os modelos apresentavam. O pulso seria muito rápido, mas propiciaria uma atmosfera bastante homogênea para a ocorrência de neve na serra catarinense durando a maior parte da madrugada. 21h 1,6oC Morro da Igreja 3,4oC Cruzeiro - Montes da Serra 5,1oC Cruzeiro- Keiser 4,9oC São Joaquim - Inmet 5,8oC São Joaquim - Centro 6,7oC Bom Jardim da Serra - Terra do Gelo Em comparação com os registros das 21h, a rodada do GFS 00Z do dia 23/09/2022 com dados de entrada mais próximos do momento da ocorrência da nevada, projetava condições de uma atmosfera especialmente limítrofe para a ocorrência de neve, com chances muito pequenas para as áreas de menor altitude da serra. Mostrando que a isoterma de 0C em 850mb alcançaria apenas brevemente a região de São Joaquim entre o meio e o fim da madrugada. Fato que pode ser observado pelos registros das estações de Bom Jardim da Serra, centro de São Joaquim e outras. Até mesmo a estação Cruzeiro-Keiser, localizada a 1475m, não chegou a registrar temperatura negativa entre a madrugada e amanhecer, ficando com uma mínima de 0,2oC as 06h34. FIELD TEMPERATURE TEMPERATURE TEMPERATURE TEMPERATURE TEMPERATURE PRECIPITATION LEVEL 850 MB 800 MB 750 MB 700 MB 650 MB UNITS DEGC DEGC DEGC DEGC DEGC MM HR + 0. 2.9 -0.3 -1.8 -3.2 -6.1 0.99 + 3. 1.1 -2.0 -2.0 -3.4 -4.4 0.00 + 6. 0.4 -2.6 -1.3 -3.6 -5.0 0.00 + 9. -0.4 -1.8 -0.9 -2.6 -3.2 0.00 + 12. 1.0 -1.1 0.2 -1.4 -1.4 0.00 + 15. 4.9 0.5 -0.4 0.6 0.4 0.00 + 18. 6.7 1.9 -1.4 2.3 1.2 0.00 + 21. 5.6 1.3 -0.8 3.6 1.6 0.00 + 24. 3.9 1.5 3.4 4.9 1.5 0.00 Observem que de acordo com a rodada mais próxima do evento, a partir das 21h a atmosfera começava a ficar propícia para a queda de neve nos pontos mais altos da serra, com a isoterma de 0C em 800mb alcançando a região a partir deste horário, trazendo frio suficiente e homogêneo nas camadas mais altas, com patamares favoráveis para a formação dos flocos de neve. Entretanto, apesar de bastante significativo para fins de setembro, não pode-se dizer que se tratava de uma massa de ar frio muito potente, pois os valores não foram tão baixos quanto aos registrados em muitas outras ocorrências de neve. Vale destacar que a projeção do GFS 00Z encima da hora seguiu os demais modelos, especialmente o Europeu, que indicava a isoterma em 700mb se estendendo por um período mais longo do que o modelo americano apresentava anteriormente. O GFS vinha indicando inversão entrando a partir das 03h00 na região nas rodadas anteriores, sendo também o mais fraco e limítrofe nessa camada no intervalo mais propício para a ocorrência de neve em relação aos demais. O GFS seguia insistindo em não projetar precipitação para o decorrer da madrugada em sua rodada numérica com as coordenadas de São Joaquim. Nesse quesito o modelo acertava a precipitação que ocorria em São Joaquim até as 21h00 daquela noite, mas errava o que se seguia a partir deste horário, com chuviscos na cidade e a neve iniciando nos pontos mais altos por volta das 22h30. 00h -0,7oC Morro da Igreja 0,3oC Cruzeiro - Montes da Serra 2,3oC Cruzeiro- Keiser 2,0oC São Joaquim - Inmet 2,9oC São Joaquim - Centro 4,1oC Bom Jardim da Serra - Terra do Gelo Saindo de São Joaquim por volta das 22h20 em busca dos locais de maior altitude do município, registrava chuva com frio ainda insuficiente de 3,4oC numa estação localizada no centro de São Joaquim (Santa Cruz). Havia bastante umidade e a temperatura que teimava em não cair no final de tarde, finalmente tinha desabado com a chegada da advecção mais potente no final da noite. Chegando as 22h40 próximo ao topo da região do Cruzeiro, +- 1585m de altitude, a temperatura da estação próxima (Montes da Serra Lodge) era de apenas 0,6oC e finalmente a chuva fraca que me acompanhou por todo o trajeto, desde o centro do município até o distrito do Cruzeiro, ali já se dava na forma de uma neve bem fininha e fraca que ia e voltava. 03h -1,8oC Morro da Igreja -0,9oC Cruzeiro - Montes da Serra 0,9oC Cruzeiro- Keiser 0,6oC São Joaquim - Inmet 1,5oC São Joaquim - Centro 2,7oC Bom Jardim da Serra - Terra do Gelo Acompanhei por cerca de 1h30 algumas quedas de neve e garoa de neve fraca intercalada, em forma de pancadas, ainda sem formar flocos grandes na forma de capuchos. As imagens de radar que os colegas do grupo postavam mostravam boa carga de umidade sendo transportada para a serra com a circulação da baixa pressão na costa. O modelo Europeu havia acertado magistralmente a permanência da umidade e as instabilidades advindas daquele sistema. A temperatura caia vagarosamente na região entre 1.500m e 1.600m, mas a atmosfera seguia seu congelamento nas camadas mais altas. O Morro da Igreja já alcançava uma temperatura negativa correspondente com o projetado na rodada das 00Z do GFS, por correspondência era sabido que acima daquele nível a temperatura seria ainda mais fria e favorável. O cenário de limítrofe do final da noite estava se transformando em uma janela promissora pelo decorrer da madrugada. 23h14 - Imagem de Satélite 23h49 = Radar 23h54 00h46 Logo na minha descida em direção ao centro de São Joaquim para um breve descanso, algumas pancadas de flocos grandes começaram a cair na região entre os 1.500m e 1.450m. A linha de neve era muito definida e ia até a essa altitude, descendo um pouco mais em direção a cidade (+- 1.350m) já passado da meia noite, a chuva voltava e a temperatura encostava em 1oC. Pela webcam instalada no alto do Cruzeiro era possível verificar que a precipitação era intensa naquele momento nas regiões mais elevadas. O amanhecer prometia bons registros. 06h -1,8oC Morro da Igreja -1,1oC Cruzeiro - Montes da Serra 0,4oC Cruzeiro- Keiser 0,9oC São Joaquim - Inmet 1,4oC São Joaquim - Centro 2,6oC Bom Jardim da Serra - Terra do Gelo A pausa para um breve descanso logo foi interrompida nas primeiras horas da manhã com a verificação da webcam particular que mostraria o resultado daquela madrugada. Quando os primeiros raios de luz no início do dia transformaram a visualização de nightview para a claridade o resultado foi muito melhor do que o esperado. Uma fina camada pincelava a paisagem captada pela a webcam. A neve enfim havia caído com mais força durante a madrugada e cobria o alto da serra com um manto branco naquele amanhecer histórico. Diferentemente do ocorrido em outras oportunidades, os modelos haviam acertado a maioria dos parâmetros, mas falharam em não colocar o fenômeno em seus campos de previsão. Reiniciei a incursão em direção a região mais elevada de São Joaquim. No centro da cidade ainda chuviscava fraquinho sob aberturas no amanhecer, o que mostrava que cenários limítrofes como esse são muito dependentes da altimetria. A neve acumulada só começou a aparecer na copa das árvores por volta dos 1.500m de altitude junto a rodovia. Abaixo desse patamar ela não havia acumulado ou caído com a mesma intensidade por conta da temperatura positiva, como se observou durante toda a madrugada nas estações do centro do município ou mesmo no topo da área urbana representada pelo Inmet São Joaquim. Chegando na região do Cruzeiro, por volta dos 1.500m finalmente a neve começou a aparecer na copa das árvores e arbustos, e o visual das áreas mais elevadas a partir daquele ponto dava mostras como a neve neste episódio estava vinculada a cada palmo de altitude. Subindo um pouco mais adentrando em uma propriedade da família que fica nesta região, foi notável como a partir dos 1.550m/1.570m a paisagem já mudava bastante. Saindo de uma fraca acumulação nos arbustos para um generoso acúmulo em toda a paisagem. Uma boa quantidade de neve junto a vegetação por volta dos 1.590m de altitude Estação VUE que estava instalada no local aonde permanece a Vantage Pro 2 - Montes da Serra Lodge. Por um lapso e na empolgação só fui fazer a medição com régua nos locais sombreados por volta das 9h00. Assim, foi medido entre 2,5cm e 4cm nos locais aonde a neve resistia ao sol. Acredito que bem cedo, logo assim que a precipitação cessou, poderia chegar quase aos 5cm em alguns locais de maior acúmulo. Analisando as imagens de satélite observa-se a área de instabilidade que alcançou a região durante a noite e madrugada esteve associada a circulação da baixa pressão na costa, com um vórtice ciclônico aparecendo próximo a costa do RS. É uma situação bastante similar a observada em situações sinóticas correlatas quando da presença de um sistema de baixa pressão costuma conduzir a passagem de cavados sobre as áreas serranas do RS e SC. 5h50 UTC 6h20 UTC 7h30 UTC 8h20 UTC 9h00 UTC 9h30 UTC 10h00 UTC Como se observa, o momento de maior influência do sistema se deu durante a madrugada, convergindo com o período de maior advecção do ar frio. Nesse quesito cabe destacar que o modelo Europeu saiu-se melhor no detalhamento e estabilidade. O GFS foi um dos primeiros a indicar a possibilidade do fenômeno, mas pecou muito com a instabilidade das rodadas no transcorrer dos dias, com indicativos de inversão das camadas em rodadas muito próximas ao evento, além de apontar pouca ou nenhuma precipitação na madrugada, mesmo na sua rodada mais próxima a ocorrência de neve, quando ainda chovia em áreas serranas do RS e SC. De maneira geral foi um episódio bastante relevante do ponto de vista climatológico dada a época e a intensidade observada. Provou-se mais uma vez que os mapas de campo de neve nos modelos podem levar a erros consideráveis, haja vista as diferenças apresentadas entre os episódios frustrados de agosto e este de setembro, com bons acúmulos em uma área expressiva acima dos 1.500m em alguns municípios da serra catarinense.
  2. E o começo de novembro vai apresentando uma temperatura média de 5,2°C até o momento no topo de São Joaquim. O padrão de temperaturas invernais deve continuar por mais uma, fazendo desse provavelmente o início de novembro mais frio da história. Para os próximos dias o modelo Europeu projeta a seguinte sequência de máximas e mínimas para a região elevada de São Joaquim: Sex 3/14 Sab 4/15 Dom 5/13 Seg 6/13 Ter 7/12 Quar 5/16 A isoterma de 0°C em 700mb deverá voltar a influenciar o tempo no centro-sul, com fortalecimento e ampliação da área.
  3. Na região do Cruzeiro, em São Joaquim, tivemos o registro de neve fraca na noite de terça, intercalada por períodos misturada a garoa. Faltou muito pouco para um evento de neve em flocos maiores, mas o registro por si só é histórico para o mês de novembro. Pelo que eu pude acompanhar na minha câmera online no alto da região, possivelmente tivemos flocos maiores misturados aos miúdos. Nas imagens os registros de Mario Zatta e Mychel Legnaghi. VID-20221102-WA0091(1).mp4 VID-20221101-WA0247.mp4
  4. Pela rodada 00Z a atmosfera congelada de forma homogênea a partir do meio-dia. Ou seja, pela inclinação e força do sol é possível que durante o dia a temperatura em superfície não acompanhe a projeção das camadas 850 e 800 como os modelos projetam. Desse modo a umidade precisaria estar presente até a noite de terça e madrugada de quarta, quando teremos o melhor perfil para a formação e precipitação de neve. Penso que nessa época do ano, por nunca ter observado atmosfera fria semelhante, seja muito mais difícil a neve diurna. Veremos o final de tarde, quando já teremos frio bastante propício em todas as camadas. De maneira geral o GFS mostrou um ligeiro incremento do frio em 800mb, o que foi muito importante: + 0. 4.3 1.4 0.4 1.1 0.1 6.29 + 3. 3.3 2.4 0.8 0.7 0.3 3.82 + 6. 2.2 0.6 0.3 -0.2 -0.7 1.21 + 9. 1.6 0.2 -0.4 -1.1 -1.9 0.54 + 12. 1.5 -0.0 -1.1 -1.9 -2.8 0.56 + 15. 1.8 -0.3 -2.2 -3.4 -3.6 0.63 + 18. 2.0 -1.1 -3.1 -4.9 -4.8 0.71 + 21. 2.4 -1.2 -4.2 -6.2 -6.5 0.34 + 24. 1.8 -1.5 -4.7 -5.1 -7.1 0.21 + 27. 1.4 -1.7 -3.8 -5.1 -7.9 0.03 + 30. 1.3 -0.9 -3.2 -5.9 -9.1 0.03 + 33. 1.8 -0.3 -3.0 -6.2 -9.4 0.02 + 36. 3.5 -0.5 -2.4 -5.4 -8.2 0.02 Quase -2 em 800 e -5/-6 em 700mb com precipitação é absolutamente surreal para novembro. Além do mais a duração desse frio é outro aspecto singular, a isoterma negativa em 700 em 100hs, permanecendo mais alguns dias, tendo muito frio (para a época) entrando pelo menos em até 192h ou mais. Pelo Europeu também teremos frio propício nas camadas, ligeiramente mais forte em 700mb e ligeiramente mais fraco em 800mb, com precipitação abundante no final de tarde e início da noite.
  5. De volta depois de dois meses suspenso (decisão que respeito mas não concordo) voltamos para analisar essa incrível e poderosa onda de ar muito frio que começa a neste último dia de outubro, mas que alcançará o seu auge nos primeiros dias de novembro. Mais especificamente amanhã, primeiro de novembro, no que diz respeito a advecção de ar frio em altura e a possibilidade de uma inédita ocorrência de neve proporcionada por esse frio incomum. Traçando um paralelo com outras ondas de frio do passado, gostaria de comparar esse evento com outros episódios que se caracterizaram por serem bastante limítrofes, como será o caso. Peguei no meu histórico as previsões das camadas da atmosfera para ondas de ar frio que trouxeram neve localizada para os pontos mais altos da serra catarinense. Para tanto, selecionei a nevada de agosto de 2016 e que foi bem localizada na região do Morro da Igreja, ocorrendo com maior expressividade nos pontos acima dos 1700m com quase 10cm de acumulação em alguns pontos. Também selecionei a ocorrência de 2018, acompanhada por mim e alguns outros bazianos, que proporcionou acúmulos nos pontos acima dos 1500m, e por fim coloco a neve do final deste último setembro, que também proporcionou acúmulos na região mais alta de SC. 12Z 19/08/2016 T850, 800, 750, 700, 650, PREC + 45. 3.8 0.8 -1.2 -4.3 -7.4 0.92 + 48. 2.6 -0.8 -3.4 -6.4 -9.9 0.75 + 51. 2.0 -1.5 -4.5 -8.1 -11.8 1.16 + 54. 1.8 -2.0 -5.4 -8.2 -11.8 0.43 + 57. 1.4 -2.2 -4.8 -7.7 -11.7 0.30 + 60. 0.7 -3.0 -3.8 -7.2 -10.9 0.30 + 63. -0.0 -0.5 -2.8 -6.1 -8.4 0.00 + 66. 0.6 0.5 -2.4 -4.6 -5.3 0.00 + 69. 0.4 0.4 -1.9 -3.2 -3.8 0.00 + 72. 1.3 0.6 -1.2 -1.7 -2.2 0.00 08/07/2018 06Z T850, 800, 750, 700, 650, 500, PREC + 24. 5.1 2.0 -0.8 0.7 -1.2 -13.5 0.00 + 27. 5.0 2.0 -0.6 -2.4 -3.7 -14.6 0.25 + 30. 4.4 1.5 -0.9 -3.9 -6.1 -15.5 0.79 + 33. 4.1 1.0 -2.1 -4.4 -7.7 -17.1 0.89 + 36. 3.8 0.3 -2.3 -5.2 -9.4 -18.7 0.92 + 39. 2.8 -0.0 -2.4 -6.0 -10.5 -20.1 1.07 + 42. 2.6 0.6 -2.3 -6.0 -10.1 -21.1 0.08 + 45. 1.9 0.6 -2.1 -5.6 -9.3 -21.5 0.08 + 48. 1.7 0.2 -2.0 -5.9 -9.0 -21.4 0.08 + 51. 2.1 -0.3 -2.5 -6.4 -8.8 -20.9 0.07 + 54. 2.2 -0.4 -3.0 -6.7 -8.9 -20.0 0.04 + 57. 4.1 -0.0 -3.9 -7.2 -9.3 -19.5 0.05 + 60. 4.3 0.3 -3.4 -7.1 -10.0 -19.7 0.49 + 63. 3.2 0.1 -3.2 -7.0 -9.7 -20.1 0.63 + 66. 2.7 0.3 -3.3 -7.3 -9.5 -20.5 0.00 00Z 23/09/2022 T850, 800, 750, 700, 650, PREC FIELD TEMPERATURE TEMPERATURE TEMPERATURE TEMPERATURE TEMPERATURE PRECIPITATION LEVEL 850 MB 800 MB 750 MB 700 MB 650 MB UNITS DEGC DEGC DEGC DEGC DEGC MM HR + 0. 2.9 -0.3 -1.8 -3.2 -6.1 0.99 + 3. 1.1 -2.0 -2.0 -3.4 -4.4 0.00 + 6. 0.4 -2.6 -1.3 -3.6 -5.0 0.00 + 9. -0.4 -1.8 -0.9 -2.6 -3.2 0.00 + 12. 1.0 -1.1 0.2 -1.4 -1.4 0.00 + 15. 4.9 0.5 -0.4 0.6 0.4 0.00 + 18. 6.7 1.9 -1.4 2.3 1.2 0.00 + 21. 5.6 1.3 -0.8 3.6 1.6 0.00 + 24. 3.9 1.5 3.4 4.9 1.5 0.00 O que todos esses events tem em comum? Notadamente uma condição de frio praticamente insuficiente no nível de 850mb para sustentar a neve em locais de menor altitude, mas que apresentaram a isoterma de 0oC alcançando os 800mb por alguns momentos, além de propiciarem uma atmosfera bastante congelada nas camadas superiores em associação a períodos com umidade disponível e precipitação. Condição que se nota abaixo é a prevista pelo modelo GFS em sua última rodada para o topo da serra catarinense para o dia de amanhã e início da quarta-feira. 12Z 31/10/2022 T850, 800, 750, 700, 650, PREC + 12. 3.8 0.9 -0.2 0.8 0.4 2.98 + 15. 2.5 2.2 0.4 0.4 0.3 3.12 + 18. 1.9 0.1 0.3 0.2 -0.5 1.45 + 21. 1.4 -0.1 -0.7 -1.3 -1.7 0.85 + 24. 1.1 -0.1 -1.2 -1.9 -2.9 0.85 + 27. 1.5 -0.2 -1.7 -2.8 -3.4 0.67 + 30. 1.8 -0.5 -2.8 -4.7 -4.9 1.02 + 33. 2.3 -0.5 -3.5 -5.9 -7.3 0.64 + 36. 2.1 -1.1 -4.0 -6.0 -7.5 0.20 + 39. 1.4 -1.1 -4.1 -6.0 -8.4 0.07 + 42. 1.3 -0.7 -3.6 -6.5 -9.1 0.03 + 45. 2.2 0.1 -3.0 -6.6 -9.9 0.02 + 48. 3.7 -0.1 -2.0 -5.5 -8.9 0.01 + 51. 7.2 2.7 -1.6 -5.6 -7.1 0.08 + 54. 8.0 3.6 -0.5 -4.4 -5.0 0.11 Destaco que é absolutamente surreal estar postando essa análise para um primeiro de NOVEMBRO. Com isso faço a ressalva de que a analogia apresentada merece certa cautela pois estamos em uma época do ano com luz e inclinação do sol totalmente diferente dos episódios apresentados. Considerando isso, é ainda inimaginável que a natureza realmente irá nos brindar com um perfil de atmosfera característico de inverno para este primeiro de novembro. Ainda assim o frio já vem dando mostras de que realmente será muito forte com os seus primeiros suspiros, pois olho o termômetro desabando no alto de São Joaquim com a minha estação já marcando 6,7oC neste exato momento. Nesse cenário, temos um perfil da atmosfera projetado similar a alguns episódios do passado que já causaram neve. Sendo inclusive um dos mais fortes DE TODO O ANO para o ingresso de ar frio em baixa e média altitude. Ganhando com folga, como se observa, do evento da neve do mês de setembro, que apresentava uma janela muito mais curta e com frio mais fraco entre 750mb e 700mb. Assim, não é possível descartar a ocorrência de neve no decorrer desta terça e no início da madrugada de quarta nos pontos mais elevados da serra, destacando que esse evento poderá ter bastante semelhanças com o perfil da atmosfera de julho de 2018. Ou seja, bastante localizada pela altitude. A umidade é ainda um ingrediente a se verificar, e que pode faltar justamente no momento mais forte da advecção de ar frio, durante a noite de terça, enquanto que deve sobrar nas horas anteriores com o sol de novembro sobre as nuvens impactando em um maior aquecimento na temperatura diurna, frustrando a combinação ideal e desejada. Por fim, o nowcast será importante e os ingredientes estão na mesa para o registro de uma possível e inédita ocorrência de neve em pleno mês de novembro. Só o fato de estarmos avaliando isso já é para ficar na história. Que a natureza responda se os registros dessa onda de ar frio também escreverão novos capítulos do clima no Brasil.
  6. Fez mais frio do que os modelos previam em altura, mas acertaram a inversão com o morro da igreja não baixando de -1,7. Na minha estação chegou a -4,1 com -9 de sensação térmica. Mais frio entre 1300-1600m do que a 1800m na advecção. Lindo amanhecer no topo da serra catarinense.
  7. -2,7 Montes da Serra -0,7 Morro da Igreja Possivelmente quente de 800 para cima, como os modelos previam. Sem neve nas partes altas, que dirá das outras regiões que a Josélia da Climatempo sugeriu... sem comentários.
  8. Morro da Igreja com 0,1 e 1,9 na minha estação no topo do Cruzeiro, em São Joaquim.
  9. É uma pena Lucas. Tenho focado em posts técnicos e acabo tendo que ser psicólogo de problemático. Não é pra mim, e não deve ser fácil pra vocês. Voltando: GFS sepultou há muito tempo a neve, Europeu seguiu e sepultou de vez hoje. Começa a ficar interessante o cenário para um novo avanço de ar frio no final da próxima semana.
  10. Ora, Galvão, parece que calou fundo e sentiu eu citar as romarias para S. Chico. Citei seu nome? Me referi a você, a sua trupe? Ninguém aqui entendeu, não precisa vir aqui em público chorar igual uma criança e vestir uma carapuça que não é sua. Aqui não é o lugar pra falar de seus problemas pessoais. Os colegas do baz não merecem, me procure quando for para me xingar, de preferência pessoalmente. Ademais eu não tenho inimigos, mas lamentavelmente percebo que você assumiu que está entre os que me consideram um. Estimo melhoras e boas viagens a São Chico.
  11. Euro segue com a neve, gfs somente traços no meteograma. De maneira geral os modelos secam a atmosfera, a esperança fica por alguma perturbação no ramo remanescente da frente-fria. As previsões de neve de alguns institutos indicando probabilidade alta e áreas superestimadas em mapas devem ter problemas. Ou a neve na manhã de sexta segundo a Defesa Civil deve ser outro vexame. Pelo gfs era para estar 10,8 em 850 as 6h na região de São Joaquim. No local agora a pouco 8,2 a 1600m e 9,2 a 1475m, mais frio que o previsto Entre 21h e 00h a atmosfera congela no planalto sul catarinense, e um pouco mais cedo na serra gaúcha. Se precipitar algo a partir daí, terá que ser sólido. Se já estiver seco, muito improvável voltar a cair algo.
  12. De maneira geral houve uma grande redução nos campos de neve pela alteração no posicionamento e trajetória da baixa pressão no oceano. O que restou da neve seria pelo remanescente de umidade na rabeira da frente-fria, o que diminui a relevância e abrangência da ocorrência. Os modelos parecem ter consolidado esse cenário na 00Z, o que veio a se repetir na 06Z.
  13. Infelizmente como se suspeitava o modelo Europeu superestimou a possibilidade de um evento de neve no dia de hoje, sendo o único que há dias vem mostrando acumulados em seus prognósticos, como ocorreu novamente hoje para uma ampla área na saída da 00Z. Como apresentado anteriormente, o próprio episódio fraco de fins de julho carregava consigo um potencial de frio maior do que o observado hoje, embora tivesse faltado umidade naquela oportunidade. Umidade que hoje se faz presente de forma abundante e até atrapalha o eventual registro nos topos mais altos da região. Mesmo assim houve o registro muito breve de alguns flocos misturados a chuva na região da Fazenda Santa Barbara. Registro que como se previa, seria prejudicado por conta da atmosfera saturada e de temperaturas insuficientes para a conservação dos flocos até a superfície. De maneira geral as temperaturas vem se comportando como o prognosticado para as camadas de 850mb a 800mb, com registros que dificultam os prognósticos que os mapas gerados pelo modelo europeu apresentam. Ainda em sua última rodada o modelo europeu apontava uma extensa área no Planalto Sul de SC e Nordeste do RS sujeita ao fenômeno, com acumulados que poderiam chegar a 2,5cm (uma polegada). Além disso o modelo sugeriu alguma ocorrência em outra área extensa no Planalto de Palmas. Fato que não ocorreu até o momento e que, pelas temperaturas observadas até o momento, dificilmente ocorrerá.
  14. E o modelo segue insistindo nesse cenário, inclusive ampliando a área sujeita a neve para além do Planalto Sul de SC, incluindo agora na 06Z o Planalto de Palmas, na divisa entre o PR e SC. E as condições de saturação da atmosfera e ponto de congelamento sob temperaturas próximas a superfície continuam em uma situação pouco favorável até o momento. Realmente devemos olhar com atenção. Para o Planalto de Palmas a única explicação plausível é a maior proximidade da região com o centro da baixa em altos níveis que deve atravessar o Paraná, o que pode proporcionar nuvens mais desenvolvidas nas proximidades da região, fator que poderia contribuir sob condições muito limítrofes de temperatura, em que pese a total saturação do ar.
  15. Como complemento do meu post anterior, segue a sequência de rodadas recentes do europeu indicando neve no topo da serra geral, inclusive na mais recente 12Z de hoje.
  16. Vejam que interessante e desafiador o caso do modelo europeu insistindo em uma projeção de neve para as partes mais elevadas da Serra Geral em SC. O próprio modelo vem gerando os mapas de neve acumulada (pouca, diga-se de passagem) com atmosfera tradicionalmente desfavorável para tais projeções. Pelo histórico do próprio modelo é muito difícil vê-lo prever neve sob as condições de uma atmosfera praticamente positiva até os 750mb e com um frio ainda fraco em 700mb, a julgar que a projeção para 800mb do próprio modelo indica temperatura positiva, patamar mais do que limítrofe para as altitudes das serras do sul. Esta projeção é um tanto curiosa, e é preciso olhar com atenção alguns indicativo de outros modelos para se tentar chegar a um prognóstico mais definitivo, caso seja possível. Pelo GFS, esta oportunidade vai além do limite considerável para suportar os mapas que o Europeu vem gerando. Assim como no ECMWF o modelo vem colocando um perfil da atmosfera bastante limítrofe, com a linha de congelamento mal tocando os 800mb. T850, T800, T750, T700, T650, PREC Rodada 06Z 08/08/2022 + 48. 5.0 1.8 0.3 -1.0 -3.5 3.57 + 51. 4.0 1.0 -0.2 -1.8 -4.5 2.88 + 54. 3.8 1.0 -1.0 -3.1 -6.3 3.41 + 57. 4.0 1.0 -1.9 -3.1 -6.2 1.74 + 60. 3.6 0.5 -1.1 -3.2 -6.7 1.14 + 63. 2.7 0.6 -1.2 -3.5 -6.3 0.32 + 66. 2.7 0.2 -1.1 -2.9 -5.5 0.22 + 69. 3.1 -0.3 0.0 -0.8 -3.4 0.14 + 72. 2.5 0.6 2.2 0.7 -2.5 0.11 + 75. 2.2 1.9 3.4 1.1 -2.1 0.08 Note também que as temperaturas entre 750mb e 700mb são relativamente insuficientes para suportar a formação de flocos, ou de sustentar a sua conservação na queda até as altitudes medianas do topo da Serra Geral em SC. A mais recente saída de agora (12Z) partilha da mesma projeção que o modelo vem indicando rodada após rodada. Rodada 12Z 08/08/2022 + 39. 6.6 3.6 2.4 -0.3 -2.6 5.44 + 42. 5.4 2.2 1.8 -0.0 -3.3 3.53 + 45. 4.6 1.6 -0.5 -1.5 -3.8 2.97 + 48. 3.6 0.6 -0.8 -2.5 -4.9 3.76 + 51. 4.1 1.3 -0.7 -2.9 -5.3 3.29 + 54. 4.5 1.6 -1.3 -4.0 -6.5 2.99 + 57. 3.8 0.8 -1.6 -3.5 -6.5 2.64 + 60. 3.2 0.2 0.1 -2.0 -5.5 0.46 + 63. 2.7 -0.8 1.4 -1.0 -5.1 0.21 Com alguma variação nos detalhes, na média temos temperaturas positivas no nível de 800mb, e projeção de congelamento fraco nas camadas acima. Logo, uma condição bastante desfavorável mas não impossível dadas algumas características muito especiais a serem observadas localmente. Tais como o tipo de nuvem, o desenvolvimeno vertical, a vorticidade, a umidade e a temperatura de fato no momento mais propício indicado. Para efeito de comparação, até naquela rápida incursão de ar frio agora no final de julho o modelo indicava perfil da atmosfera mais favorável por um curtíssimo período, embora com o ar já secando no momento mais propício a formação do fenômeno. Rodada 06Z 28/07/2022 + 21. 10.2 7.7 5.5 1.5 -1.7 2.09 + 24. 6.4 3.2 0.8 -0.5 -1.9 6.31 + 27. 1.7 0.9 0.3 -0.4 -3.6 1.14 + 30. 0.5 -2.2 -2.3 -4.0 -7.6 0.37 + 33. 1.3 -2.0 -2.6 -3.4 -6.8 0.00 + 36. 3.2 -0.5 -0.6 -1.9 -5.2 0.00 + 39. 3.2 0.0 1.1 -1.0 -3.9 0.00 + 42. 2.5 0.1 1.7 1.3 -1.6 0.00 Note que em uma rodada mais adiante o modelo foi ajustando e reduzindo ligeiramente o potencial de frio das camadas próximas a superfície, exatamente como ocorreu. Rodada 18Z 28/07/2022 + 12. 6.3 3.7 1.6 -0.1 -1.5 4.51 + 15. 2.0 0.6 0.9 0.1 -2.7 0.62 + 18. 0.6 -1.6 -1.0 -3.4 -5.3 0.00 + 21. 2.5 -0.9 0.7 -1.7 -5.2 0.00 + 24. 4.5 0.9 1.9 -0.6 -4.2 0.00 + 27. 3.0 0.4 3.3 1.0 -2.4 0.00 Nesta oportunidade registrei apenas freezing rain sobre as pedras no amanhecer de 29/07/22. A temperatura negativa projetada foi observada já aos 1585m na estação que coloquei de volta ao ar as 8h30 quando registrou-se -0,8oC. Feito esses registros cabe levantar se a insistência que o europeu coloca em uma ocorrência de neve com condições tão limítrofes poderia encontrar alguma analogia com eventos do passado? Ocorrência de neve que seja tão limiar quanto ao apresentado pelo europeu eu não encontrei paralelos com o passado. Para todos os efeitos, o evento da neve de 04 de agosto de 2010 não poderia ser rotulado como limítrofe, apresentava um perfil da atmosfera muito mais forte que o atual (também pudera, o anticiclone polar era um monstro de 1040mb maritimizado), mas beirava o limite para a ocorrência nos pontos mais altos de SC, especialmente para aonde registrou-se de fato. Naquela ocasião o frio nas camadas analisadas projetava-se muito mais homogêneo e com uma janela de maior duração. Há que se considerar também que, pela ocorrência de fato, com grandes acumulados por volta dos 1200m em alguns pontos (Serra do Panelão e meio-oeste) o modelo GFS subestimou a ocorrência. Rodada 00Z 04/08/2010 + 0. -0.6 -0.9 -2.3 -3.2 -4.3 0.00 + 3. -0.7 -0.6 -2.1 -3.3 -3.9 0.08 + 6. -0.9 -1.1 -2.9 -3.3 -4.2 0.00 + 9. -0.6 -1.4 -2.9 -3.1 -3.9 0.00 + 12. 0.2 -0.8 -2.1 -2.7 -3.8 0.02 + 15. 2.3 -1.2 -2.9 -3.6 -4.2 0.00 + 18. 1.9 -1.2 -3.8 -6.1 -7.0 0.03 + 21. 1.3 -0.6 -3.1 -5.5 -6.4 0.00 + 24. 1.5 -0.5 -3.2 -6.1 -6.9 0.02 + 27. 2.0 -0.2 -3.0 -5.7 -7.8 0.00 + 30. 2.2 -0.2 -2.8 -5.3 -8.6 0.00 Note que não é possível traçar paralelos do presente com o evento de 2010. Mas em que pese projeção de alguns modelos, sempre há uma esperança de que a natureza possa trazer surpresas, neste caso torcendo para que o europeu acerte ainda que o mapa seja bastante incoerente com outras variáveis analisadas. Por fim, cabe destacar que em meteorologia nenhum evento consegue repetir um outro do passado. Mas é certo que nesta oportunidade teremos uma grande disponibilidade de umidade sob atmosfera fria. No mínimo teremos uma quarta-feira gelada nos pontos mais altos com algum fio de esperança de que a natureza nos brinde com boas surpresas. A chance maior é por uma chuvinha fina e muito gelada, mas quem sabe lá...
  17. Exatamente, e isso foi matando as chances de alguma precipitação invernal nas serras que os modelos chegaram a projetar. De igual modo há neste momento muita divergência quanto aos volumes acumulados nesta semana, chegando até a última projeção do Mbar/Cosmo, que aponta absurdos 400mm na região da grande Florianópolis.
  18. Perfeito. Muito vento e especialmente ressaca poderosa na costa. Por ora os modelos estão posicionando o ciclone mais ao norte que o normal. Bem sobre a costa catarinense, pegando o PR também. Incomum.
  19. Os modelos seguem tentando lidar com a formação dessa baixa frente a costa de SC. Duas coisas são certas: 1. O próximo ar frio não é poderoso. Boa parte dele será bloqueado e deslocado para o atlântico ainda na Argentina. 2. O período de advecção em altura será muito breve, acompanhando o rápido deslocamento do cavado em altos níveis. Nesse cenário há também o ingrediente do excesso de precipitação projetada. Os altos volumes denotam uma atmosfera absolutamente saturada, carregada de calor latente. Assim, com ar frio beirando o limítrofe (com muita boa vontade), por ora não vejo chances de alguma precipitação invernal sem que os modelos comecem a projetar um maior resfriamento das camadas da atmosfera e uma sensível redução nos volumes de precipitação projetados para os pontos mais altos da serra. O desenho é bonito, mas há importantes ingredientes com necessidade de ajustes.
  20. Com o GFS colocando 7C em 850, sem congelamento da atmosfera até o nível de 650mb, sem precipitação, e temos uma projeção de neve acumulada.
  21. Bem vindo ao "Civilidade Sport Club". Um post muito bem feito, sem xingamentos, sem chamar um profissional de "canalha", acusando-o de cometer o crime de FAKENEWS, sem instigar pessoas a jogar uma bomba na fábrica do produto, ou sem ameaças de que seria possível abrir um processo contra a empresa pois esta produziria dados falsos, como se aventou por aí... Enfim, o seu post tem tudo o que se espera para ampliar o conhecimento com informações relevantes, com educação e o nível de civilidade que se espera. De maneira geral sempre se soube que a WRF é de qualidade inferior, e isso nunca esteve sob questionamentos. É sabido também que a WRF tem um histórico de diferenças nas medições já aferidas por algumas estações, algumas mais, outras menos, e que a empresa teria feito alguns ajustes em sensores da estação. Inclusive alterando o código fonte por orientação de um cliente (baziano das antigas). Sinceramente espero que a empresa tome nota destas e outras observações para que possa melhorar o produto. Em que pese todos os seus apontamentos, do ponto de vista do produtor rural, a estação satisfaz as necessidades para o uso a que se propõe, indicando dados muito próximos ao que se considera para o local. Eu continuo preferindo outras marcas, mas se o produto for de fato tão ruim ou "lixo" como rotulado por muitos, e se a empresa não estiver disposta a proceder com os ajustes necessários, que o mercado cuide de fazer a seleção de sobrevivência de marcas e produtos.
  22. Sobre o excelente post do Moretão em relação a estação Corujas WRF: 1 - Médias praticamente idênticas. 2 - Máximas praticamente idênticas. 3 - Média mínima -0,8 menor na WRF. Tendência de diferença maior nas madrugadas mais frias. 4 - Por alguns dias foi colocada uma Ambient Weather junto ao local e a Ambient se aproximou mais da WRF nas mínimas do que a Davis. 5 - A Davis marcou SEMPRE mínimas maiores que a Ambient. 7 - Em breve o local terá uma Ambient nova e fixa. Pra quem considera a WRF um "lixo total", a média trouxe a resposta. Para o caso do produtor rural que está pouco se lixando para a disputa pelas mínimas, a estação tem cumprido a função para observação do clima no local. Sobre a WRF é possível que uma melhora no abrigo seja necessária para que haja uma diferença menos pronunciada nas mínimas. A Davis foi sempre a menos fria das 3 estações no local.
  23. Após a precipitação de alguns institutos e meios de comunicação que apressaram-se a divulgar chance de neve para amanhã nas serras gaúchas e catarinenses, importante notar que no curso do período os modelos variaram bastante, retroagindo de um cenário mais intenso do cavado, praticamente anulando as possibilidades do fenômeno da forma como divulgou-se por aí. Ao final de todo o alarido, apesar de bastante insignificante, há convergência para um perfil de atmosfera limítrofe por um curtíssimo período para alguma precipitação invernal amanhã pela manhã em regiões acima dos 1500m. A isoterma em 0oC pode descer a 800mb, a dúvida é se haverá umidade suficiente. Ocorre que alguns institutos e meios saíram precipitadamente publicando uma eventual possibilidade, o que em países acostumados ao fenômeno nem seria digno de nota. Levando ao limiar de todas as probabilidades e dada a ocorrência rara, estão banalizando a previsão de neve no Brasil dia muito.
  24. GFS 12Z dizimou a já pequena chance de neve, enquanto isso a RBS colocando manchete prevendo neve no telejornal. Como pode sob uma condição limítrofe e restrita os veículos e algumas empresas de meteorologia se prestarem a esse papel? Europeu 12Z também praticamente aniquilando a pequena e curta janela para qualquer precipitação invernal, seguindo o gfs. No geral o que está mandando é o posicionamento da baixa pressão em altitude, quanto mais distante e menos profunda, pior para a possibilidade do fenômeno. Os modelos estão dançando com ela. Esperamos melhoras, mas a tendência de redução no potencial parece estar guiando os modelos.
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